Olá meu nome é Poco de Saudades. Eu me descobri andando pelo mundo com a idéia de descobrir novas culturas, aprender novas formas de linguagem e expressao e mudar um pouco a minha rotina. A proposta era muito boa, mais como sacrificio, tive que deixar os meus queridos para traz, os lugares aonde eu gostava de ir, as minhas atividades e empacotar a minha vida em duas malas de 32 kilos cada. Eu sempre achei que isso seria fácil, ou que o premio valeria o preco pago. Sempre achei que as amizades nunca se acabariam, que os lugares nao mudariam de lugar, que os livros continuariam na estante. Acreditada que o telefone resolveria a distancia, que as novas fotos substituariam as imagens de despedia e que um pouco de sal resolveria o gosto das novas comidas. Disse que 365 dias eram muito mais que o suficiente, que poderia fazer tudo o que eu tinha planejado e que ainda me sobraria tempo para fazer tudo novamente.
E entao parti. Parti sem saber pra onde eu ia. Sem conhecer a gente que lá estava. E parti com o sorriso na cara, pilhas carregadas caderno e caneta. Seria tudo perfeito.
Quando eu cheguei, me deparei com gente que nem era assim tao diferente da nossa gente. Mas que de alguma forma era diferente, era especial. Gente que tinha um Q a mais. Vi gente como a nossa gente, vi gente mais diferente ainda. Vi gente da Thailandia, do Ecuador, do Mexico. Vi gente da Croácia, da Finlandia. E vi gente nativa. E eu me apaixonei. Me apaixonei pela danca, pelas carteiras da escola, pela hora do almoco, pelo bilhete de trem, pela bagagem de mao.
Me encantei como essa gente senta na mesa, como eles pegam no lápiz. Me apaixonei por risadas, sorrisos, dentes. Até mesmo quando os dentes nem tao bonitos eram...
Ao meu interior, que já possuia todas as pessoas de casa, meus livros e cachorros, minhas avenidas e estacoes de metro, foram adquiridas novas pessoas, pessoas de casa, casas novas. Novos lugares, U-Bahn, S-Bahn, novos sabores de café, novas roupas, novas expressoes, Achso, Naja, Wie gehts. E eu tive que ir, cada vez, mais fundo pra dar mais espaco pra tanta coisa nova.
Eu sabia que tinha um limite. Que só poderia trazer de volta 2 malas de 32 kilos cada. Mas eu nao pensei na hora da volta. Nao me privaria de conhecimento só por causa de um limite e alguns kilos a mais.
E foi pensando assim, que o meu poco foi ficando cada vez mais fundo, e fundo e fundo e fundo
Olá meu nome é Poco de Saudades. Eu me descobri andando pelo mundo com a idéia de descobrir novas culturas, aprender novas formas de linguagem e expressao e mudar um pouco a minha rotina. Eu vivi cada dia dessa caminhada. Eu aprendi a ter os mais loucos sentimentos. Eu ri alto
E foi assim que eu cavei o meu poco. Joguei todas as minhas fotos la dentro, pendurei todas as minhas lembrancas. Mas eu deixei algum espaco livre, pras novas pessoas e placas de carro e passagens aéreas e bolas de neve que ainda virao.
Lá no fundo do meu poco, tem uma caixa que se chama Caixa Preta. A cor se refere, eu acho, aos taos variados sentimentos que la dentro estao. Uma mistura de cores, sempre resulta em preto. Entao uma mistura de sentimentos, também se resultará em preto. As vezes nao dou conta de lidar com tudo isso: lembrancas e sentimentos. Machuca.
Eu estou quase terminando. Ainda tenho que fazer algumas coisas por aqui, fazer mais fotos. Eu só espero nunca mais esquecer o que eu aprendi. Os rostos que eu aprendi, os abracos que eu aprendi, os cheiros que eu conheci. Eu amei, eu me apaixonei; e o amor sempre pesa mais que 32 kilos. E agora, o que eu faco?
Mais de que seria a vida se nao de lembrar e sentir?
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